sábado, 25 de janeiro de 2014

Saudades dos tempos em que a Engenharia era levada a sério.
Tive a imensa felicidade de estudar em boas escolas, o que não significa exatamente a aprovação de todos os mestres (e vice versa). Coisas de estudante.
Mais ainda, em casa meu pai, técnico eletricista, era uma pessoa inteligente e com muita experiência profissional, disposto, contudo, a conversar comigo sobre tudo o que fosse colocado, eu um simples pirralho.
Determinado a ver o filho formado (faleceu antes, infelizmente) em uma boa escola, tinha em mente que o Caio faria Engenharia no IEI, Instituto Eletrotécnico de Itajubá.
Cursinho em São Paulo no Di Túllio, 1963, que maravilha [o artigo sugerido dá uma das facetas desse ambiente (Di Tullio, 2.006)]. Além de viver um ano na capital dos paulistas quando era possível caminhar pela cidade, lá havia uma quantidade enorme de oportunidades de lazer, cultura e aprendizado sem maiores custos que a passagem do bonde ou ônibus, aprendi a viver e sobreviver. As pensões associadas à fome da juventude eram ótimas. O pingado de manhã com pão e manteiga no balcão do bar mais próximo, genial!
O problema era o sotaque de “barriga verde” e a utilização da segunda pessoa do singular ao conversar com alguém, os paulistas se ofendiam. Mas, quem entendia, era só abrir a boca e sentiam que eu era catarinense. Para tirar dúvidas eu perguntava: “Como é que tu sabes?”, bem cantado e as gargalhadas dos amigos encerrava a dúvida que persistia, brabos por quê ficaram?
No cursinho alguns professores marcaram a presença para sempre. Aulas de Física, Português, Química, Matemática etc. vinham acompanhadas com lições de moral e, principalmente no caso do Professor Alfeu Tersariol, piadas em cima dos corintianos. Nos intervalos íamos para a sacada do andar em que estávamos para jogar pedaços de giz na cabeça de quem passasse na calçada...
O Professor Tore Nils Olof Folmer Johnson (Tore Nils Olof Folmer Johnson - um Mestre), grande mestre para nós (vestibulandos) em Física, além de suas aulas excelentes, deu o valiosíssimo conselho: criança deseja, adulto quer.
O vestibular, que situação estranha. Fazer testes sem ter certeza de qual carreira seguir. Agora sei, depois de me aposentar, afinal quem naquela idade poderia saber o que era Engenharia, exceto filhos de engenheiros?
No curso em Itajubá, IEI e depois EFEI, agora UNIFEI (infelizmente), vivíamos entre aulas, reuniões de diretório e bagunça. O ano de 1964 permitiu um começo agitado e o curso criou desafios enormes, principalmente para quem resolveu casar no início de 1966.
Mestrado em Florianópolis em 1972 e uma carreira eminentemente técnica criaram uma preocupação permanente com a lógica, as leis da Natureza, a Matemática e a Física, e a admiração pelas grandes obras.
Os computadores foram aparecendo, primeiro os mamutes cheios de frescura, exigiam até ar condicionado, depois os PCs, agora um mundo de possibilidades impressionante e crescendo sempre.
Computadores, trabalho em ensaios de campo, comissionamento e avaliação de grandes instalações, estudos e análises de Sistemas de Potência etc. sempre justificaram o básico: as leis da Natureza não se alteram ao sabor de discursos e regras de economistas e advogados e na área das Ciências Exatas impõe-se estudar sempre e mais, afinal as exigências técnicas crescem.
O Brasil grande nasceu na década de sessenta e morreu nos anos oitenta, talvez mais pelo ufanismo e otimismo dos militares e as pressões maldosas de grandes grupos econômicos que geraram a falência de nosso país. Ao final da década de setenta já estávamos quebrados; não posso esquecer a declaração de um alto executivo da Siemens na Alemanha, quando participávamos de uma missão técnica na Alemanha, dizendo que nos recebiam por dever de ofício, mas, 1977, o Brasil estava quebrado e fora dos seus interesses comerciais. Um jornal inglês comparava o Brasil a um trem descendo sem freios.
Será que a história está se repetindo?
Temos agora um Brasil confuso e somos obrigados a ouvir declarações absurdas de grandes “autoridades” políticas mais preocupadas com o tempo de horário eleitoral do que com o futuro do Brasil e seu povo. Uma delas: fazer arenas, estádios, é simples (equipe de reportagem do Jornal Nacional, 2014). Graças a esse “simplismo” ganhamos acidentes vergonhosos nesses tempos “democráticos”.
Nossa esperança no início da década de oitenta era muito grande.
As comemorações dos trinta anos das Diretas Já, medíocres, não refletem nossa crença e esperança na Democracia quando o período militar fracassou.
Está muito claro atualmente que os piores herdeiros da República assumiram o processo democrático...
Duro é ver que até a Engenharia Nacional dá lugar (e informações) para a chinesa e outras. E o futuro do que a “Ditadura” criou de positivo? Vai para o Cassino Mundial? É desmontado em estratégias argentinas?
Não merecemos o império dos medíocres, ou ele é inevitável? Isso estará na Arqueologia do Saber do Brasil quando for escrita como o fruto da ignorância atual?  Até faz sentido, afinal o analfabetismo social e político no Brasil é imenso.

Cascaes
25.1.2014

Di Tullio. (20 de 08 de 2.006). Fonte: Meu Bazar de Ideias: http://santospassos.blogspot.com.br/2006/08/di-tullio.html
equipe de reportagem do Jornal Nacional. (23 de 1 de 2014). Dilma Rousseff afirma que construir estádios é relativamente simples. Fonte: Jornal Nacional: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/01/dilma-rousseff-afirma-que-construir-estadios-e-relativamente-simples.html
Tore Nils Olof Folmer Johnson - um Mestre. (s.d.). Fonte: bIFUSP: http://www.if.usp.br/bifusp/bifold/bif0301.html#bif0301-01






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